Carta à geração digital
- Jimi Aislan
- 10 de mar. de 2019
- 3 min de leitura

Porto alegre, 10 de março de 2019
Oie! Pode parecer um tanto estranho escrever uma carta, quando posso enviar uma mensagem de whats e terei a certeza que você visualizou e não respondeu, ou simplesmente soltou um kkkkkk sem esboçar um pequeno sorriso. Acordei nostálgico e aproveito para lhe escrever. Não é fácil se conectar com uma ou mais gerações de distância, ainda mais quando você já estava na internet antes mesmo de nascer, e quando abriu os olhos, click, o Instagram já tinha sua foto. Daí para virar youtuber antes dos dez anos foi um passo simples. Não condeno seu otimismo digital, a tecnologia é maravilhosa sim. Converso com amigos que não via há anos, pessoas há milhas de distância, e ainda me espanto com a velocidade que meus parentes envelhecem. Tudo à disposição de um clique, basta desbloquear o celular. Contudo, há coisas escondidas entre os bytes, sensações que uma tela é incapaz de passar. Escrevo, porque você precisa saber: há vida além das redes sociais.
Basta desacelerar um pouco e respirar. Olhar as pessoas em sua volta e encontrar o que nos importa de verdade. Esqueça os directs, tente se conectar com abraços. Daqueles demorados em que o mundo se perde em alguns segundos. Nada de postar textão nessas horas, um aperto assim a dois, dispensa palavras e conecta a alma. Independe de gênero, idade ou credo. Abraço é a ligação simples e pura entre os seres, sem intermediários ou mediações.
Abandone as curtidas, olhe nos olhos. Aquele olhar focalizado entre os olhos e a finaleira do nariz, sabe? Não? Tente, é um olhar penetrante, que massageia o ego de quem nunca é percebido. Encabula até os mais fortes, porque um olhar sincero, desnuda a alma. Olhe sem interesse, enquanto escuta uma história, nada de desviar os olhos. Perceba como as pessoas podem ser intensas num simples sorriso e quando lhe perguntarem o que você está olhando, responda sinceramente: você.
Largue os áudios do whatsapp, ligue. Áudios são emissões egoístas, sem interação. Não há retorno no momento, nem sequer percebe as reações de quem está do outro lado, como pode chamar de comunicação completa e real? Ouça as bufadas de alguém contrariado ou os suspiros de quem está feliz por ouvir sua voz. Troque sensações através de palavras mescladas. Uma conversa boa é prenúncio de momentos melhores ainda. Desate os nós truncados que as mensagens amarram ao dia a dia. Esclareça dúvidas, pergunte sobre o dia, faça apenas isso. Permita-se sentar no sofá enquanto proseia. Nada de multitarefas, uma coisa de cada vez. E a vez é de se entregar ao prazer do diálogo real.
Se possível marque aquele café ou chopp. Aquele que se prometem há tempos e ficam no “vamos marcar né?!” e nunca se marca. Um dia sem checkin. Sem foto da comida. Faça o pedido enquanto conversa com o atendente, se possível pergunte seu nome. Olhe ao redor do ambiente e sinta como a casa foi arrumada, como a rua está movimentada, como o tempo passa ao seu redor. Tire uma pequena folga das redes digitais. Veja pessoas, sinta cheiros, saia de casa. A vida não é programada, muito menos está delimitada num post. O que nos faz melhor é a troca de experiências e não a troca de informações. Parafraseando Negroponte, no livro chamado Vida Digital, você é o conjunto das suas redes digitais ou é mais que isso? Porque limitar o conjunto de interações sociais quando você pode ser tudo isso que a tecnologia possibilita e mais humano? Há muita vida fora do seu celular.



Comentários