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À beira do abismo

  • Foto do escritor: Jimi Aislan
    Jimi Aislan
  • 28 de out. de 2018
  • 3 min de leitura

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Estamos perto. Já é possível ver o abismo cada vez maior se alargando entre nós. E ele não surge do nada, começa com um simples dormir brigados. Depois de um ou dois dias sem se falar, a distância parece normal e a indiferença pode virar tantas coisas quanto maior for a angústia. Hoje não é sobre relacionamento à dois. Preciso falar de algo a mais. É necessário que eu te avise do precipício que tem se formado entre nós, milhões de brasileiros.

Muito tem se falado, nessas eleições sobre amor e ódio. E sabemos, são sentimentos extremamente poderosos, mas há um fato maior que isso tudo. Política não é sobre sentimentos. Política é sobre um contrato social que fazemos ao abrir mão da nossa representatividade para que alguém nos represente. É a alienação, no sentido de transferir, as nossas percepções sociais para alguém que nos seja próximo em ideias, nas mais diversas camadas da esfera pública. Essa percepção é fundamental, pois se política não é sentimento, devendo ser baseada no raciocínio lógico e pensamento crítico, por que os nervos andam à flor da pele no país? Por que essa semana tem sido tão tensa e qualquer conversa descamba para o não entendimento?

Primeira coisa a ser olhada é justamente a comunicação. Nunca houve tanto acesso à informação como nessa disputa eleitoral, não só pela manutenção da internet e sua infinidade de conteúdos, mas pela pluralidade de vozes. Bocas sujas, violentas, sábias, ponderadas, esperançosas. Há palavras de todos os tipos, mas foi preciso recorrer ao inglês para entender como algo bem brasileiro se tornou sistêmico nessas eleições. Sim, as fakenews, ou simplesmente mentiras, notícias falsas estão soltas. Isso não chega a ser novidade, essa artimanha esteve presente em TODAS as disputas políticas. Questão de história, podem pesquisar, como povo, por vezes alguns tentam vencer pelo "jeitinho" e não por mérito próprio. Vimos uma enxurrada dessas fakenews invadirem o cotidiano das discussões ideológicas. Desinformações propagadas por alguns interessados. Se faltam propostas aos candidatos, é porque falta profundidade em muitas percepções pessoais que estão sendo berradas na internet. E o berro sempre afasta.

Com um manancial de informações sérias e experimentadas disponíveis, um desalento nos corrói toda vez que o argumento é "mas eu vi no WhatsApp, o grupo compartilhou". Há tantos livros de história, ciência política, administração pública, artigos científicos, teses, planos de governos que fracassaram e deram certo. Há muita coisa disponível. E ao mesmo tempo, pouca gente lendo, estudando. Sempre foi mais fácil pedir pra alguém resumir, por que seria diferente agora? Ainda mais quando a matéria e todos os argumentos chegam prontos no celular.

Entenda, não é sobre a eleição em si. Você pode votar em quem você quiser. O nome disso é democracia. O problema é que há algo tosco acontecendo com pessoas, de ambos os lados. Política virou sinônimo de crença. Não existem mais verdades, nem mesmo nos sites oficiais. A todo o momento surge uma nova teoria da conspiração e as pessoas se apegam a isso. Brigam por isso.

O pior cego não é aquele que não quer ver, mas sim o que sai distribuindo pancada e nem sabe em quem ou porquê está batendo. Fato esse, que o ato de bloquear pessoas se tornou mais fácil que conversar. Faz parte do processo moderno (ou pós moderno pra chamar meu velho Bauman).

Bloqueamos um que não pensa como nós. Depois um grupo, um estado, uma região. Estamos nos afastando, cavando terra no despenhadeiro. Independente de quem vença na disputa eleitoral, você deixará de fiscalizar? Creio que não. E se direitos forem tirados? Vamos buscá-los de maneira democrática. E se continuarem roubando a gente? Vamos continuar apoiando investigações, denunciando. Cidadão íntegro é contra a corrupção tanto quanto é contra a violência. Democracia é aceitar o representante da maioria, mas sempre lembrando que ele deverá governar para todos. Por isso as vozes desprotegidas devem ter vez, as oportunidades devem ser emparelhadas. Isso é justiça social e ela vive nas nossas mãos em tempo integral, não apenas de quatro em quatro anos (ou dois em dois). Um país é feito de milhões de minorias com um mesmo propósito. Os rótulos foram inventados para nos afastar.

Sempre foi tempo de sentar e discutir ideias. Isso não mudou. Talvez o que tenha mudado de fato foi a nossa capacidade de ouvir e argumentar. Porque ouvir necessita de espaço para a compreensão do outro;  e argumentar carece de opinião própria construída sobre um conhecimento sério. Dois preceitos simples, que se iniciam pelo diálogo, mas que estão sendo soterrados no muro dessas eleições. Há um abismo e, depois dele, não há voz que ecoe.

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