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O tempo certo...

  • Foto do escritor: Jimi Aislan
    Jimi Aislan
  • 23 de abr. de 2019
  • 3 min de leitura

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Dizem que a medida de todas as coisas é o tempo. Nada nos é tão precioso quanto a forma como lidamos com essa métrica universal. Para os que tem pouca idade, a ostentação é quase um vício de vida. Na medida em que os cabelos vão branqueando, o tempo passa a ser mais caro e evitam-se os desperdícios. O seu consumo acontece de várias formas, mas uma em especial anda empoeirada, esquecida pela sociedade: o tempo de autorreflexão.

Nunca a sociedade esteve tão conectada como hoje, cada vez mais somos um emaranhado social com intermináveis conexões vivendo numa sociedade que estimula a manutenção desses links. É certo que o homem é um animal essencialmente social, foi compartilhando o acúmulo de conhecimento dos tempos anteriores que a sociedade avançou. A questão reside nos limites de nossa capacidade de manter essa interatividade de maneira sadia, de forma consciente. Somos tão acessados ininterruptamente que mal percebemos nossa própria família. E pior, mal percebemos a nós mesmos.

Nesse desconhecimento próprio, passamos a buscar no outro o que nos falta. Por que encontrar alguém que vibre na mesma frequência da gente é tão difícil? Basicamente porque a noção de tempo é diferente, pessoal e diretamente ligada à experiência.

Cada um tem o seu momento, seja de regredir ou de ficar mais maduro. É o que se chama de "timing". Na vida, tudo se transforma numa questão de ajustar esse timing. Ainda que as pessoas procurem respostas fáceis para tudo que as cerca, é no tempo do entendimento dessas coisas que a vida começa a se simplificar. Para os relacionamentos vale a mesma regra com um pequeno diferencial: eles começam dentro de nós.

O autoconhecimento é a primeira peça na montagem desse ajuste de frequência. Como se pode desvendar o outro se nem sabemos quem somos ainda? Como se encaixar no ritmo de alguém se o próprio ritmo ainda é uma incógnita? E esse problema se agravou quando as relações conjugais se tornaram mediais na sociedade. Soma-se a isso o fato das pessoas estarem com pressa de acertar. E a pressa é um transtorno como outro qualquer, só que altamente contagioso e incurável. Logo, o sucesso social passou a ser "não estar sozinho". E quanto mais rápido isso ocorre, maior é a vitória.

O problema é que em alta velocidade se perdem os detalhes que, ao longo dos relacionamentos e com a diminuição dos ritmos, vão se tornando cada vez mais importantes. Até o ponto de os detalhes determinarem a continuidade ou não das relações. O entendimento das percepções, sonhos, perspectivas do outro passa a ser decidido num clique. É na escolha de pessoas para consumo que a gente volta à teoria do Bauman e toda a liquidez da sociedade. Desejos líquidos, relações voláteis, sentimentos sublimados.

Mas nem tudo é terra arrasada, sabendo que o primeiro passo é se conhecer, nenhum tempo gasto com nós mesmos é desperdício. Netflix e uma taça de vinho podem valer mais que uma sessão de terapia. O tempo de cada um passa a ser um lugar entre a performance pós-moderna e a procrastinação. Só depois disso é que o ajuste interpessoal se torna capaz e mais sincero. O melhor timing entre duas pessoas passa a ser acertado primeiro ajustando cada um o seu tempo e depois se ajustando ao tempo do outro. Como na dança, em que dançar no mesmo passo requer habilidades individuais, sintonia no outro e sensitivas na música. Mas sem saber dançar para si, anteriormente, torna-se um pouco desastroso tentar conduzir ou acompanhar qualquer parceiro.

De toda confusão que se faz acerca do tempo, seu gasto e relacionamentos, a alienação das escolhas é o resumo. As decisões são de cada um, presente divino chamado livre-arbítrio, e merecem uma consideração maior que não vem de fora. Não pode ser imposta, mas deve ser sentida. Uma vibração que tem relação direta com as experiências, sonhos e perspectivas. Abrir um espaço em si mesmo para perceber tudo isso é o acerto do tempo e descobrir o tempo certo de cada um é a maior forma de empoderamento que se pode buscar.

1 comentário


cezarlimpex
cezarlimpex
26 de abr. de 2019

Lindo...Lindo...Lindo&Contundente. "O problema é que em alta velocidade se perdem os DETALHES que, ao longo dos relacionamentos e com a diminuição dos ritmos, vão se tornando cada vez mais importantes. Até o ponto de os detalhes determinarem a continuidade ou não das relações." Paz&Luz...BAITA dia meu Ir.'.


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