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Quando o silêncio é necessário

  • Foto do escritor: Jimi Aislan
    Jimi Aislan
  • 13 de jan. de 2019
  • 3 min de leitura

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Dizem que a medida de todas as coisas é o tempo. Nada nos é tão precioso quanto a forma como lidamos com essa métrica universal. Para os que tem pouca idade, há ostentação e o gasto é quase um vício de vida. Na medida em que os cabelos vão branqueando, o tempo passa a ser mais caro e evitam-se os desperdícios. O seu consumo acontece de várias formas, mas nenhuma delas anda tão empoeirada, esquecida pela sociedade, quanto a autorreflexão.

Nunca a sociedade esteve tão conectada como hoje, cada vez mais somos um emaranhado social com intermináveis conexões vivendo num mundo que estimula a manutenção desses links. É certo que o homem é um animal essencialmente social e foi compartilhando o acúmulo do conhecimento dos tempos anteriores que evoluímos. A questão reside nos limites de nossa capacidade de manter essa interatividade de forma consciente. Somos tão acessados, que por vezes mal percebemos as nossas opiniões serem emitidas sem nenhum argumento válido. A quantidade de pessoas repetindo mentiras alheias, compartilhando ódio público e despejando projeções suas nos outros é inédita.

Para remediar isso, é importante saber que há um fluxo natural de acontecimentos. No geral, esse ritmo é dual, como sístole/diástole, inspirar/expirar, consciente/inconsciente, entre tantos outros dipolos que existem. Toda essa dualidade é traduzida na forma como administramos o mundo exterior dentro de nós, tudo organizado pela nossa formação, dada pela escola, família ou autodidata. Depois disso, produzimos respostas internas e as devolvemos ao mundo exterior. Organizar o que ocorre ao redor de nós, no mundo das sensações, é o primeiro passo. Depois, traduzir as sensações em sentimentos, é criar pontes que nos mantenham ligados à sociedade. Quanto mais trabalhamos nessa tradução, mais seguras ficam nossas ligações.

Com o celular, e seus infindáveis apps, o tempo para entender a realidade que nos cerca é cada vez menor. A rapidez das respostas se traduz em rapidez de sentimentos e por vezes queimamos etapas da intimidade que nos é conveniente para compreender a sinceridade dos nossos sentimentos. Assim, torna-se cada vez mais comum julgar o outro segundo o nosso próprio ser, e lhe emprestar até sentimentos sinceros. Depois da fase de euforia, percebe-se que o encantamento veio do empréstimo das nossas expectativas e sonhos a uma situação banal e corriqueira. Erros de percepção trazem erros de julgamento e decisões mal formuladas. Isso serve para amizades, namoros, casamentos, laços familiares e até vínculos profissionais.

Acredite, o mundo não tem pressa. Quem tem pressa são as pessoas, que estão cada vez mais agitadas e fugindo da própria convivência. De tempos em tempos, é saudável fazer uma espécie de retiro. Sobretudo antes de decisões mais sérias. Um tempo para entrar em contato consigo mesmo e conseguir julgar suas ideias do alto dos sentimentos e não das sensações. Ficar sozinho. Isolado, caminhando, correndo, meditando, não importa a forma de auto conexão, o fundamental é reatar os laços internos e não os deixar perdidos diante de tantos links externos.

É na promoção desse encontro interno que aprendemos a fazer de nós mesmos uma casa melhor para habitar, um lugar gostoso de permanecer. Puxar uma cadeira ou se esticar numa rede disposta na varanda dos sentimentos é não ter medo de ser embalado pelas lembranças de quem se foi ou do que se fez. Para a vida ser uma constante evolução, é necessário que retomemos, volta e meia, nossos atos, palavras, erros e acertos. Manter um silêncio entre nós e o mundo é a forma que o espírito escolheu de se refinar. É no silêncio que as coisas realmente acontecem, como diria o poeta "as grandes dores são mudas como também os grandes amores".

Hermes disse certa vez a seu filho Tat que a sabedoria ideal está no silêncio. A sabedoria de se conhecer, de ser melhor que era ontem, porque realmente compreendeu tudo o que se passou desde então. Como podemos ser uma excelente companhia para outros quando temos tanto medo de ficarmos a sós? Alimente as pequenas solidões, estimule os raros silêncios. Se possível, faça deles um lugar mais presente no dia a dia. É na força do silêncio, na paz do coração e no repouso de todos os ruídos externos, que o verdadeiro ser se revela. É no silêncio que nossa própria voz nos fala mais alta, mais clara e mais verdadeira.

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